sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Conferências levam contribuições para melhorar ensino de 178 mil indígenas

São Gabriel da Cachoeira (AM) – Aos 54 anos, o professor Higino Pimentel Tenório, da etnia Tuyuka, trabalha como assessor pedagógico da Escola Municipal Indígena Utapinopona, na comunidade de São Pedro do Alto Rio Tiquié (fronteira com a Colômbia). Atualmente sua escola conta com 110 alunos e nove professores de diferentes povos.

Liderança em sua comunidade, Higino participa da Conferência Regional de Educação Escolar Indígena do Rio Negro, que acontece em São Gabriel da Cachoeira (AM). Ele acredita que a educação indígena está passando por um período de ressignificação. Emocionado, relata as dificuldades que enfrentou para manter sua cultura e continuar com a educação bilíngüe (na língua materna e em português).

“Quando jovem fui escolhido pela Missão Salesiana para fazer o ginásio na cidade. Fiquei confinado dez anos no internato. Naquela época e ainda hoje muitos indígenas tinham medo e até vergonha de usar a língua materna, por pensar que ela era menor, que não tinha valor. Éramos obrigados a aprender e usar somente o português”, relata.

“Recentemente, depois que as culturas e várias línguas indígenas foram negadas e até apagadas, vejo com alegria esse retrocesso”, prossegue ele. “Na escola de hoje podemos resgatar nossos conhecimentos antigos, nossa língua e nossas verdadeiras raízes, fortalecendo assim a identidade de cada povo.”

Processo – Serão escolhidos nesta quinta-feira, 18, na maloca da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), 40 delegados que representarão todas as comunidades e instituições do Alto Rio Negro na Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena.

A proposta é ouvir e sistematizar as contribuições de 10 mil pessoas, entre pais, alunos, professores e lideranças de 1,5 mil comunidades (60% do total) para a melhoria da educação escolar oferecida aos mais de 178 mil estudantes indígenas brasileiros matriculados em 2.517 escolas (segundo o Educacenso 2007).

Para isso, o Ministério da Educação vai realizar, até agosto de 2009, mais 17 etapas regionais da conferência. A próxima será em Salvador, de 10 a 13 de março, com representantes dos povos indígenas dos estados da Bahia, Alagoas e Sergipe, além de representantes dos sistemas de ensino e outras entidades. Da etapa nacional, que será realizada em setembro de 2009, em Brasília, participarão 450 delegados indígenas e 150 das instituições governamentais e da sociedade civil.
O coordenador-geral da educação escolar indígena da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) do MEC, Gersem Baniwa, afirma que um dos maiores desafios dessa gestão é repensar a educação indígena com a contribuição de todos os 220 povos, e construir uma política que atenda as necessidades de cada território.

Baniwa citou como exemplo a questão da educação básica para as crianças indígenas. “Cada região tem uma necessidade diferenciada. Nos estados do Nordeste e Centro-Oeste os pais precisam da escola para deixar as crianças e ir trabalhar. Já no caso das aldeias do Amazonas, as famílias querem iniciar a criança no aprendizado tradicional, e se elas forem para a sala de aula essa formação será atrasada e pode ser comprometida”, detalha.

Acordos - Durante esta etapa da conferência foi realizada uma reunião com representantes do Ministério da Educação, Fundação Nacional do Índio (Funai), Secretaria de Estado da Educação e Qualidade do Ensino do Amazonas, Secretaria Municipal de Educação de São Gabriel da Cachoeira, Universidade Federal do Amazonas e Escola Agrotécnica Federal, para pactuar os próximos passos do avanço da política educacional indígena na região. Está previsto para março de 2009 um novo encontro com todos os atores, para a assinatura de um Plano de Trabalho definindo as responsabilidades institucionais de cada um.

Fonte: MEC

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