domingo, 27 de maio de 2007

Inclusão do diferente na escola pública é possível

"Para integrar um aluno com síndrome de Down reorganizamos toda a estrutura da escola. Aos poucos ele, que antes ficava excluído das atividades da sala de aula, agora, está trabalhando com letras móveis e acompanha toda a rotina das atividades normais da 1ª série", contou Silvana Lucena dos Santos Drago, Professora de Apoio e Acompanhamento à Inclusão (PAAI), durante II Simpósio Interinstitucional sobre Inclusão e VI Encontro Nacional das Unidades Universitárias Federais da Educação Infantil, que acontece na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na cidade de São Paulo.

Segundo Drago, a professora da 1ª série do ensino fundamental de uma escola municipal da zona sul de São Paulo, inocentemente, isolava a criança com Down. Ela colocava a mesa da criança ao lado da dela, fazendo com que ele fizesse atividades mais simples que as do resto da turma e deixando que ele saísse da sala de aula de acordo com a sua vontade. "Ele é um menino bastante sedutor e afetuoso. Toda escola gostava de ver ele sair da sala e andar pelos corredores. Ele entrava nas outras salas de aula, visitava a diretora", disse. Ela contou ter tido muita cautela ao tratar do assunto com a professora, respeitando o próprio desconhecimento das escolas em relação aos PAAIs e outras iniciativas de inclusão do município.

Segundo ela, em reuniões periódicas, foi possível reorganizar desde o posicionamento das carteiras - que passou a ser em círculos - até a confecção de cartazes com as regras da sala, construídas pelos próprios alunos e a leitura diária da rotina e dos afazeres escolares. "Todo dia, a professora passou a ler que, em determinado horário, todos comiam, depois estudariam matemática e depois era hora da história. Isso ofereceu a organização que o garotinho precisava para se ordenar no cotidiano da escola e, mais ainda, com as normas, ele deixou de ser diferente e também não mais saía sem pedir permissão para brincar nos corredores", contou. Hoje a criança está em processo de alfabetização.

De acordo com Maria de Lourdes Campos Cruz, da Coordenadoria de Educação da Penha, é essa a função dos PAAIs, que são 52 na rede municipal, número ainda pequeno para atender os mais de 12 mil alunos com deficiência matriculados na rede regular. "Na rede municipal existem 113 Salas de Apoio à Inclusão (SAAI,) que têm estrutura e elementos pedagógicos que favorecem a inclusão e o trabalho com as peculiaridades do imenso grupo de alunos". São 92 salas para deficiência mental, nove para física, seis para visual e seis para auditiva. "Existem ainda 20 casos de superdotação, que também requerem atenção especial do serviço de inclusão do município".

Para Cruz, a idéia é que a escola comece a olhar com a sua própria experiência e no seu próprio quadro de funcionários como pensar a diferença, paralelamente a uma formação continuada específica, que utiliza material produzido pelos professores e funcionários da própria rede. "O primeiro volume se dedica à alfabetização de surdos", conta a professora que acredita que a especialização de um funcionário não garante tranqüilidade no processo de inclusão. "É preciso aprender junto ao PAAI responsável, aos coordenadores, a todo grupo de professores e junto a todos estudantes com alguma especificidade", explicou.

Para Lia Diskin, da Associação Palas Athena, a inclusão é uma atitude embasada em um tripé que compreende a relação da pessoa com o mundo, da pessoa com o outro e da pessoa consigo mesma, levantando a tríade de honestidade, respeito e confiança. "São três relações e três preceitos que precisam ser avaliados para compreender a magnitude da questão sobre inclusão. É preciso compreender que o respeito à diversidade, a honestidade na apresentação de si mesmo ao outro e a confiança ao fazer isso está na base de toda a relação que pensa aceitar a originalidade da espécie humana", acredita.

Para a PAAI Silvana Drago, o trabalho com a família é fundamental para que a criança portadora de deficiência se desenvolva plenamente. "No caso do menino com Down, nós orientamos a mãe para que ela, como lição de casa, brincasse com ele, utilizando as letras móveis de madeira e relendo as historinhas contadas em sala de aula. Além de ter ajudado na aprendizagem do filho, a mãe ainda se sentiu menos angustiada por participar diretamente do processo de inclusão do filho".

Diskin afirma que a escola e a comunidade como um todo devem se voltar para o indivíduo que tem sempre algo a contribuir com uma excelência específica e que a humanidade, como projeto inacabado que é, está se direcionando para observar e dar espaço para que essas potencialidades se concretizem. "A palavra Ugundo, na língua Bantu, que compreende uma imensa gama de significados, é a resposta base para os anseios da inclusão. Ela quer dizer, em uma única palavra, que sou quem sou por aquilo que todos somos".

Fonte: Aprendiz

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