quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Hai-Kai da educação


Basta envelhecer para perceber que o que é supérfluo muitas vezes pode tornar-se paralisante daquilo que é fundamental. Um estudante perguntou-me, há algumas semanas, sobre qual deveria ser a duração de um documentário que fazíamos juntos. Nunca tinha pensado sobre aquilo. Custei a entender que não há resposta certa: dez segundos – ou talvez dez horas.

Os Lusíadas são uma obra imensa, épica e essencial; já o centenário Hai-Kai traz um mundo em apenas três fundamentais versos. Em suma, o que importa mesmo é trabalhar a essência e se livrar de toda e qualquer burocracia – naquele caso, as firulas de um documentarista teriam a capacidade de esvaziar o sentido de um filme; tudo dependeria do material bruto filmado.

Na educação, me parece sempre um bom sinal quando voltamos às raízes. No campo das políticas públicas educacionais no Brasil de hoje há um movimento importante que anda para trás, num bom sentido, e valoriza aquilo que é essencial. O MEC - mais precisamente a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade.(Secad) - tem reunido atores da sociedade civil que já experimentam e criam modelos de educação integral e comunitária, como o Aprendiz, para a construção de um documento-base sobre o tema.

Trata-se, na verdade, de recuperar o sentido mínimo da educação, e de desmontar a burocracia político-pedagógica que se montou sobre a escola nos últimos 70 anos. O movimento é de desnudar o modelo escolar, e reestruturá-lo em seus mandamentos essenciais; como os três versos do Hai-Kai. Não se pensa em turno ou contra-turno, mas em educar o tempo todo.

Para se ter uma idéia de como a educação se desvirtuou e inchou, o educador baiano Anísio Teixeira já sentia necessidade de buscar a essencialidade na década de 30 do século passado! A Escola Parque, sua proposta de educação integral, é um caso em que o moderno e revolucionário, de certa forma, é o prosaico: uma volta da simplicidade nas relações de tempo e espaço.

Pensando nos desafios que a educação encontra hoje, chego a acreditar que o mundo midiático em que vivemos não é tão complexo quanto parece; a escola é, sim, anacrônica para ele. O modelo escolar e curricular de hoje parece um lagarto preguiçoso que descansa ao sol, alheio ao que acontece fora de seus muros – inclusive à mídia.

Paulo Freire acreditava que a educação era por excelência um ato de comunicação. A mídia de massa nada mais é que a conseqüência, econômica e política, desse mesmo comunicar. Resta a escola e a comunidade estruturarem-se para interferir nesse sistema abrangente que, se entendido na sua essência, permite interferência, participação e democratização.

Para a atual geração de estudantes é simples produzir comunicação. As meninas e meninos blogueiros aprenderam a desenvolver seus blogs experimentando, fuçando e imprimindo sua marca. A educação pode se aproveitar disso para cumprir seu papel. Aliás, não há nada mais essencial e antigo do que ‘aprender fazendo’.


Fonte: Aprendiz

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