segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Para IBGE, desigualdade no Nordeste ainda é muito grande


Rio de Janeiro - Apesar da melhora nas condições de vida da população do Nordeste nos últimos anos, segundo informações coletadas na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quando se comparam os números obtidos com os do Sudeste, verifica-se que “o desnível, a desigualdade, ainda é muito grande”. A avaliação é da coordenadora dos Indicadores Sociais do IBGE, Ana Lúcia Sabóia.

De acordo com a PNAD, o Nordeste foi a região com maior crescimento na renda familiar média entre os anos de 2005 e 2006, atingindo 12%. Sabóia informou que houve melhoria nas condições de vida dos nordestinos em termos de saneamento dos domicílios e escolaridade da população, entre outros fatores.

Segundo a coordenadora, a freqüência das crianças nas escolas cresceu bastante no Nordeste a partir de 1985, devido a ações implementadas pela antiga Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), que introduziu a política de estímulo à merenda nos municípios na fase pré-escolar. Com isso, Ana Lúcia Sabóia analisou que as crianças passaram a ter pelo menos uma refeição dada pela escola, embora esta apresentasse condições muito precárias.

“Existem escolas para receber as crianças, mas a qualidade desse atendimento, a oferta desse serviço, ainda é precária”, destacou. Daí haver uma grande defasagem no ensino na faixa etária de sete anos. “A grande parte das crianças nordestinas com sete anos ainda não sabe ler. Não foram alfabetizadas no pré-escolar. Então, é um crescimento que está ocorrendo no nível econômico, mas não chegou propriamente, de forma satisfatória, aos moradores do Nordeste”, afirmou.

A pesquisadora do IBGE informou que nos últimos anos os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, têm sido muito benéficos no Nordeste. “E nós já podemos detectar isso pelas pesquisas do IBGE. Houve não só uma melhora de renda, e como existe a condicionalidade da criança freqüentar uma escola, a freqüência à escola tem crescido e se mantido no Nordeste por conta desse tipo de programa social”.

Sabóia defendeu que também a aposentadoria rural é um fator que favorece as condições de vida da população nordestina no campo. “Sem dúvida nenhuma, um dos grandes programas que o Brasil teve sucesso foi a aposentadoria rural, porque beneficiou grande parte dessa população rural que está muito concentrada no Nordeste”.

Na análise da coordenadora de Indicadores Sociais do IBGE, os avanços alcançados não foram, entretanto, suficientes para alterar as condições de vida do nordestino, que “são ruins”. O Nordeste ainda tem condições precárias de sobrevivência da população, afirmou. “Mas houve uma melhora. O que eu quero deixar bem claro é que tem havido uma melhora, que sem dúvida nenhuma vai beneficiar as crianças no futuro do Nordeste”. Ela advertiu, por outro lado, que na comparação com estados como São Paulo ou Rio de Janeiro, percebe-se que as condições no Sudeste são muito melhores do que as do Nordeste.

Sabóia analisou que também a possibilidade de não estar ocorrendo repasse à população das riquezas obtidas por empresas que se instalaram no Nordeste contribui para que as desigualdades permaneçam latentes. Ela enfatizou, por outro lado, que como existe uma mão-de-obra para conseguir um posto no mercado de trabalho naquela região, geralmente esses postos que são oferecidos são de baixa remuneração. “Tem mais esse problema. Existe muito posto de trabalho no Nordeste, no mercado informal, em que as pessoas ganham menos do que um salário mínimo. Já no Sudeste, é muito mais difícil você arrumar empregados em que se pague menos de um mínimo e sem carteira assinada”.

A pesquisadora lembrou que o fato de o Nordeste concentrar municípios de menor Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma das riquezas produzidas no país, pode retardar o processo de igualdade e divisão de riquezas.

“Certamente, porque o Nordeste vem carregando historicamente dificuldades muito grandes. E para que elas sejam rompidas, tem que haver uma nova dinâmica na economia. Principalmente na política. Quando houver uma decisão de que o Nordeste é prioridade, eu acho que esse crescimento vai de fato transcorrer de forma mais rápida”, concluiu.

Fonte: Agência Brasil

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