Por Wangari Maathai (*)
Nairóbi, agosto/2007 – A África será o continente mais prejudicado pela mudança climática. Chuvas e inundações imprevisíveis, secas prolongadas e rápidas desertificações, entre outros sinais do aquecimento global, já começam a mudar a face da África. Os pobres e os mais vulneráveis do continente serão particularmente golpeados pelos efeitos do aumento da temperatura, que em algumas regiões estão subindo duas vezes mais rápido do que no resto do mundo.
Nos países ricos, a iminente crise climática é motivo de preocupação já que afetará tanto o bem-estar das economias quanto as vidas das pessoas. Mas na África, região que apenas contribuiu para o fenômeno porque suas emissões de gases causadores do efeito estufa são minúsculas em comparação com as do mundo industrializado, se tratará de uma questão de vida ou de morte. A África não pode permanecer em silêncio diante das realidades da mudança climática e de suas causas. Por esta razão, quando os chefes de Estado do G-8 realizaram sua última reunião, em Heiligendamm, na Alemanha, enviei-lhes uma petição exortando os países industrializados a darem o exemplo, já que eles são amplamente responsáveis pela mudança climática e a eles cabe dar os passos mais decisivos para combatê-lo.
Como os maiores contaminadores, as nações industrializadas também têm a responsabilidade de ajudar a África a reduzir sua vulnerabilidade e incrementar sua capacidade para se adaptar à mudança do clima. Sabemos que existe um forte vínculo entre o meio ambiente, as formas de governo e a paz. É essencial que ampliemos nossas definições de paz e segurança para incluir nelas o manejo responsável dos limitados recursos existentes no planeta, bem como uma distribuição mais eqüitativa.
Muitos dos conflitos e das guerras que ocorrem no mundo são sobre acesso, controle e distribuição de recursos como a água, os combustíveis, as pastagens, os minerais e a terra. Bastaria ver o que ocorre em Darfur. Em décadas recentes o deserto se estendeu no oeste do Sudão devido a secas e chuvas irregulares que em parte podem ser atribuídas à mudança climática. Como resultado disso, os agricultores e os pastores se enfrentaram pela escassez de terras aráveis e de água, o que foi aproveitado por líderes inescrupulosos que usaram estes conflitos para provocar uma violência em massa. Centenas de milhares de pessoas foram assassinadas e muitas mais tiveram que abandonar suas casas em meio a campanhas de intimidação, violações e seqüestros.
Mas com uma melhor administração dos recursos e com o reconhecimento dos vínculos entre o manejo sustentável dos recursos limitados e os conflitos temos mais possibilidades de evitar as causas primordiais dos conflitos civis e, portanto, de criar um mundo mais pacífico e seguro.
Pórem o meio ambiente se deteriora lentamente e isso pode não ser notado pela maioria das pessoas. Se elas são pobres ou se são egoístas ou invejosas estarão mais preocupadas com sua sobrevivência e pela satisfação de suas necessidades imediatas ou de seus desejos do que com as conseqüências de suas ações. Infelizmente, a geração que destrói o meio ambiente não costuma pagar o preço correspondente. Serão as futuras gerações que deverão sofrer as conseqüências das atividades destrutivas da atual geração.
Em questão de mudança climática estamos chamados a empreender ações. Muitos países do mundo que têm grandes florestas e uma considerável vegetação que cobre suas terras conservam sua biodiversidade e gozam de um ambiente saudável e limpo. Mas alguns estão dedicados a um destrutivo desmatamento e a estragos de biodiversidade em florestas distantes de suas fronteiras. É urgente que vejamos o mundo como um todo e que procuremos proteger não só o meio ambiente local, mas também o global.
Sente-se uma constante pressão para sacrificar florestas a fim de dar espaço a assentamentos humanos, cultivos ou industrias. Essas pressões não farão mais do que aumentar em um mundo afetado pelo aquecimento atmosférico e no qual o clima será mais irregular. Para certos políticos interessa mais sacrificar o bem comum a longo prazo e a responsabilidade entre gerações frente à conveniência e às oportunidades do momento atual.
Mas moralmente, é necessário que atuemos pelo bem comum de todos. E que assumamos a responsabilidade de proteger os direitos das próximas gerações e de todas as espécies. O desafio global da mudança climática requer que exijamos isso de nossos líderes e de nós mesmos. (IPS/Envolverde)
(*)Wangari Maathai, é prêmio Nobel da Paz 2004, membro do Parlamento do Quênia e fundadora do Green Belt Movement (http://www.greenbeltmovement.org).
Fonte: IPS
domingo, 12 de agosto de 2007
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