sábado, 28 de abril de 2007
Educação deve formar bons questionadores
"Precisamos de uma educação que permita que crianças, jovens e adultos sejam transformados em bons questionadores e pesquisadores cheios de inquietações, e não apenas absorvam respostas prontas. Essa mudança cultural deve ser rápida senão os educadores continuarão com aulas obsoletas e alunos bocejantes", defende o membro do Conselho Nacional de Educação, César Callegari. Para ele, a nova forma de pensar processos de aprendizagem é ter alunos e professores participativos e portadores de conhecimentos.
Para o especialista, não é possível falar de educação sem considerar a interação com as condições humanas e estruturais da escola. "A maior parte das crianças do país estuda em salas superlotadas. Não há projeto pedagógico que permita a um professor dar boas aulas em uma sala com mais de 45 alunos, o que acontece normalmente em muitas escolas públicas do país", lembra. Ele revela ainda que os professores enfrentam uma jornada de trabalho extensa e mal sabem o nome dos alunos. Dão aulas diárias para mais de 600 estudantes, muitas vezes em territórios diferentes dos que freqüentam, ocasionando falta de vínculo com a realidade local.
"O livro é um material didático básico que ainda não chegou em todas as escolas do ensino médio. Todos os professores, por acaso, têm planejamento de aula ou, pelo menos, conhecem o plano de ensino da escola? É preciso primeiramente saber onde estão pisando e, depois, como e onde se quer chegar", acredita.
Callegari lembra ainda que é complicado pensar em avanços tecnológicos e de conhecimento frente aos 50 milhões de homens e mulheres analfabetos funcionais que o Brasil possui. "Não se faz educação de qualidade num ambiente adverso", afirma.
Para o palestrante, por todos esses motivos não há porque se assustar frente aos resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e de outras avaliações de ensino. "Temos um Brasil rico que reserva somente 944 dólares anuais para o investimento escolar dos jovens. Exatamente por isso, 70% dos alunos concluintes do ensino médio, só em São Paulo, possuem nível muito baixo de conhecimento em matemática", exemplifica.
Em relação à tecnologia nas escolas, o especialista cita uma recente pesquisa que conclui que computador nas escolas não significa aquisição de aprendizado. "E o dado não me surpreende, pois é fato que não há nas escolas projetos educacionais que envolvam o computador, pelo simples fato de que os professores nunca foram preparados para utilizar tal ferramenta", lembra.
Entretanto, Callegari acredita que o país vive um bom momento para se criar uma cultura de responsabilidade nacional em relação à educação. Tudo isso porque foi apresentado oficialmente, na última terça-feira (24/04), pelo governo federal, o Plano de Desenvolvimento da Educação. Ele lembra que o plano tem como um dos focos enfrentar o problema de que apenas 13% das crianças entre 3 e 5 anos freqüentam a educação infantil. "De todos os determinantes de crescimento para uma pessoa, uma das coisas é ter frequentado a escola, principalmente a educação infantil. Apoiar o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) é uma das chances de tirar a educação do atual quadro de subdesenvolvimento crônico", acha.
O especialista afirma ainda que a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é o maior exemplo de fracasso na educação. De 100 matriculados no curso, menos de 50 chegam ao final do primeiro semestre. "Esses homens e mulheres que não tiveram oportunidades anteriormente, são recebidos por professores primários treinados para alfabetizarem crianças. Em questão de estrutura, contam com salas de aula com carteiras infantis em que eles nem cabem. Além disso, é totalmente desconsiderada a riqueza de conhecimentos que cada um deles adquiriu durante toda a vida. Os projetos de aula devem ir de encontro às vivências passadas junto ao cotidiano", defende.
Fonte: Aprendiz
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