Maio de 1997. O mundo perdia um de seus maiores pensadores da Educação, Paulo Freire. Segundo sua viúva, a historiadora Ana Maira Araújo Freire, há 10 anos o mundo não perdeu o maior filósofo da educação, mas sim ganhou o legado de um ser humano que amava a vida e que, durante todo o seu percurso, foi incapaz de parar de indignar-se e de desistir da humanidade.
Para comemorar a data, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), onde Freire lecionou, promoveu o encontro "Dez anos da ausência / presença de Paulo Freire", na cidade de São Paulo. Mais do que comemorar, quer dizer, lembrar em conjunto, a data é para ser confraternizada para o filósofo e último orientando de Paulo Freire, Mário Sérgio Cortella. "Toda a obra do mestre Freire é isso, um encontro de fraternos. A fraternidade para ele era um modo de convivência. Muitos me perguntam como foram esses anos sem sua presença. Digo que não haverá ano algum sem Paulo Freire. A vitalidade de sua obra ainda está conosco", disse.
Detentor de 34 títulos honoris causa, recebidos em vida e mais cinco entregues depois de sua morte, Paulo Freire é, hoje, referência para qualquer pesquisador que deseja estudar Educação. "Dizer que ele apenas criou um método é amesquinhar toda sua obra", analisou com grande intimidade a viúva, diante de um teatro lotado, com educadores sentados no chão. "Existem mais de 300 escolas brasileiras com o nome Paulo Freire. E, em setembro deste ano, a Universidade de São Paulo (USP), finalmente, concederá o título honoris para Paulo", disse, seguida de fortes aplausos.
Resgatando um pouco da vida do educador, sua esposa lembrou que a maior parte do aprendizado de seu ex-marido foi conquistado a partir do diálogo com os pobres. "Paulo me dizia que foi em Jaboatão - município do interior de Pernambuco - que o contato com a pobreza ficou mais forte. Depois de passar fome por causa da crise de 1929, ele saiu de Recife (PE), onde nasceu em 1921, e foi para o interior. Lá, a intuição começou a guiá-lo para o caminho da Educação", disse.
"Paulo Freire vivia de forma dialógica, sempre trocando. Crescendo e fazendo as pessoas crescerem junto. Isso não era um método, era um princípio ético. Ele ensinava o que sabia. Praticava o que ensinava. E perguntava o que desconhecia. Quer dizer, respeitava o outro como fonte de vida, conhecimento e amorosidade", descreveu Cortella.
"Vocês podem perguntar: todo o conhecimento de Paulo era obtido pela intuição e por conversas?. Repondo que não. Paulo lia e lia muito", explicou sua mulher. Mas, para atingir a importância que a obra tem hoje, os textos de Freire não ficavam reproduzindo sua erudição, muito menos apenas dialogando com a produção acadêmica. "A burguesia vai a feiras de antiguidades comprar o passado. Enquanto isso, os pobres precisam promover mutirões para construir o futuro. E isso que Freire fez. Com muitas mãos juntas procurou, como dizia e escreveu, o inédito viável, sempre brigando pela dignidade coletiva e nunca achando que não restavam alternativas", explicou o educador.
Cortella lembrou que muitos da nova geração de educadores, que começam a ler os originais de Paulo Freire, acham óbvias as idéias expostas. "Muitos dizem, já li isso em algum lugar. É claro, foi Paulo quem disse e os novos autores basearam-se nele", explicou. "Por isso que a obra de Freire continua tão atual. Existem muitas novidades na área da educação, mas que são passageiras. Ao contrário, o que Freire escreveu foi novo, quer dizer, veio, instalou-se, transformou-se e permaneceu. Sempre sendo irrigado intelectualmente e nunca perdendo a vitalidade", completou.
Cortella, que sucedeu Paulo Freire na secretaria da educação da cidade de São Paulo no início da década de 1990, lembra dele como um líder. "Eu ia animado levar bronca, porque sabia que ia sair da sala dele sempre melhor do que entrei. O chefe você teme. O líder você respeita e admira. Ele ensinava sem humilhar", disse.
Apesar de tudo isso, Cortella lembra que Freire não é unanimidade. "Isso é muito bom. Paulo era compromissado com a vítima e, se todos concordassem com ele, seria muito estranho", concluiu.
Fonte: O Aprendiz
sábado, 2 de junho de 2007
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