Helsinque, 21/06/2007 - Faltando apenas um ano para os Jogos Olímpicos de Pequim, uma grande sombra de violações dos direitos humanos na produção de material com o selo olímpico paira sobre este gigantesco acontecimento esportivo. A Play Fair 2008, uma campanha em defesa das garantias trabalhistas na indústria de vestuário esportivo, acusou o Comitê Olímpico Internacional (COI) de manter um silêncio cúmplice diante da ampla violação de direitos trabalhistas fundamentais, como o uso de mão-de-obra infantil, nas fábricas que produzem produtos sob sua licença.
Entretanto, o COI afirma que não tem a obrigação de controlar as condições de trabalho no fornecimento de produtos esportivos olímpicos. Funcionários da entidade disseram que esse trabalho é assunto dos comitês nacionais. O Comitê Olímpico Nacional Finlandês se afastou das acusações da Play Fair 2008, incluídas em seu informe "Sem medalhas para os Jogos Olímpicos em matéria de direitos trabalhistas", apresentado na semana passada. Seu secretário-geral, Jouko Purontakanen, disse que a Finlândia não pode assumir a responsabilidade do que ocorre na China.
O comitê finlandês "participará das Olimpíadas de Pequim como qualquer outro participante, e pode decidir comprar os produtos ou não", afirmou Purontakanen à IPS em entrevista por telefone. Também rechaçou os pedidos para que a entidade finlandesa se ocupe do assunto dentro do COI - demanda central dos ativistas - argumentando que "é total responsabilidade do comitê organizador dos Jogos Olímpicos de Pequim. Não temos poder, nada podemos fazer sobre isso", ressaltou o dirigente.
Por outro lado, Hannu Ohvo, diretor-executivo do Centro Finlandês de Solidariedade Sindical, uma das entidades que apóia a Play Fair 2008, afirmou que o comitê finlandês deveria adotar uma posição mais positiva diante dos assuntos apresentados no informe. "Os padrões trabalhistas internacionais são parte dos direitos humanos, e o comitê finlandês não pode ser neutro nesse assunto", disse Ohvo à IPS também em entrevista por telefone. Apresentando as descobertas à imprensa em Helsinque na semana passada, Jukka Pääkkönen, encarregado de informação do Centro Finlandês Sindical, disse que o COI está enterrando a cabeça na areia enquanto os trabalhadores que produzem o material que leva o selo olímpico vêem seus direitos pisoteados.
Play Fair 2008 é uma coalizão de organizações sindicais e não-governamentais internacionais integrada, entre outras, pelo Sindicato de Trabalhadores Químicos Finlandeses e Sindicato de Empregados Assalariados. É remanescente de uma campanha anterior chamada Play Fair at the Olympics (Joguem limpo nos Olímpicos), lançada um ano antes das Olimpíadas de 2004 em Atenas, na Grécia. Em carta enviada no último dia 18 à Play Fair 2008, em resposta ao informe, o COI não explicou se tomaria alguma medida concreta contra as quatro companhias chinesas acusadas. Por outro lado, disse que não poderia agir porque a Play Fair 2008 não detalhou qual foi a metodologia usada em sua investigação.
"Em várias ocasiões o COI pediu a essa entidade que compartilhasse sua metodologia de investigação. Sem esta informação, que tampouco está indicada em seu trabalho, estamos perdendo um ingrediente-chave para interpretar os dados e as conclusões do estudo", disse o Comitê. A carta, enviada desde o presidente do COI, Jacques Rogge, e à qual a IPS teve acesso, diz que "o COI não maneja nem controla a elaboração de todos os produtos relacionados com os Jogos Olímpicos no mundo". Segundo a carta, a Associação para o Trabalho Justo (FLA) se dispõe a "assessorar o COI sobre códigos de conduta na cadeia de fornecimento, bem como procedimentos, controles independentes e certificação de conformidade trabalhista".
A FLA é uma iniciativa da comunidade empresarial para controlar sua própria conduta ética. Não inclui organizações não-governamentais nem sindicatos, disse Pääkkönen. Segundo ele, o COI nunca concordou em sentar à uma mesa de negociações com os ativistas da Play Fair. "Todos os contados foram, principalmente, por correspondência", disse à IPS. Os investigadores da Play Fair 2008 fizeram entrevistas e investigações no início deste ano em quatro fábricas que fazem sacolas, gorros, artigos de papelaria e outras mercadorias com o selo olímpico. Essas empresas são Lekit Satationary Co., Mainland Headwear Holdings Ltd., Eagle Lesther Products e Yue Wing Cheong Light Products.
A investigação se baseou em entrevistas com trabalhadores em três das quatro fábricas. Todas elas feitas fora das unidades. Entre 14 e 25 trabalhadores foram entrevistados de maneira anônima, devido ao medo de represálias, disse a Play Fair. No caso da Lekit, de Taiwan, os responsáveis pela campanha disseram que um investigador se fez passar por um operário e trabalhou no local por cinco dias. Depois se demitiu sem que lhe pagassem e sem ter feito um contrato.
"Todas as fábricas analisadas revelaram uma atroz falta de consideração pela saúde de seus trabalhadores e pelas leis e regulamentações trabalhistas locais" quanto ao número de horas de trabalho, escala de pagamento e contratação de menores, diz o informe. "Nenhum investigador de fábricas prestou atenção especial às mulheres que trabalham", especialmente em relação à proteção maternal exigida pelas leis chinesas, assegurou a Play Fair 2008. A indústria de roupas esportivas é um grande negócio e seu valor está calculado em US$ 74 bilhões. O setor é guiado por gigantes corporativos com Nike, Adidas, Reebok, Puma, Fila, ASICS, Mizuno, Lotto, Kappa e Umbro. (IPS/Envolverde)
Fonte: Envolverde - www.ligtv.com.br/educacao
sábado, 30 de junho de 2007
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